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24.04.21
Ciclo de Encontros SENTIDOS DO CHÃO

Olho é uma coisa que participa o silêncio dos outros
Coisa é uma pessoa que termina como sílaba
O chão é um ensino


Manoel de Barros: Arranjos para Assobio.

É do chão que vem quase tudo que comemos. E tanto o temos maltratado que podemos não ter mais que 60 colheitas pela frente. O alerta, feito em 2014 pela Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas, tornou-se ainda mais grave neste momento em que o chão parece se abrir sob os nossos pés. Até porque, se o chão é alimento, ele é também matéria prima, material construtivo, filtro de água, sumidouro de carbono, para-raio, cama, suporte, base, abrigo, documento, assentamento, memória, esconderijo, limite, ideia, visão de mundo...ensino.

Este ciclo de encontros se propõe a explorar a multivalência de sentidos associados ao chão, em suas dobras semânticas com solo/terra/piso. Seja em termos científicos, seja em termos poéticos e/ou míticos. Seja como superfície, seja como corpo que age, reage, vive, morre e guarda memória; matéria heterogênea com propriedades morfológicas e físico-químicas (cheiro, temperatura, cor, densidade, estrutura, textura, acidez, umidade etc) que podem ser afetadas, modeladas e transformadas tanto por fenômenos naturais quanto pela ação antrópica e não-antrópica.

A intenção é contribuir para fortalecer o chão, entendido como condição imprescindível para a existência - e coexistência - na Terra. Inspirar novas ideias, projetos, imagens e pensamentos, modos de preservar, ativar, honrar e cuidar do chão à revelia da sua apropriação progressiva como mercadoria. Especular sobre outras possíveis configurações territoriais, tendo em vista práticas e políticas contemporâneas que visam a revisão e ampliação do direito à terra e à cidade e a refundação do mundo em que vivemos com base em alternativas a um projeto colonizante/modernizante que parece não ter fim.

Restituir a plena potência do chão como ser vivente , feito da contínua interação entre múltiplas espécies. Como mundo, em que inúmeros tempos, organismos, agentes, forças geopolíticas e lógicas de territorialização, domínio e poder se cruzam. E como arquivo do mundo, no qual todas as ações de algum modo se inscrevem, deixando marcas.

Sem deixar de considerar o que é pensar o chão hoje, no Brasil. Ou a partir do Brasil, hoje. Nesta encruzilhada onde as desigualdades herdadas da violência colonial se expressam como nunca no substrato em que pisamos cotidianamente, sobre o qual erguemos nossas casas, onde enterramos nossos mortos e do qual depende a habitabilidade do planeta. Mas onde também, junto com os terríveis efeitos da urbanização descontrolada, dos cercamentos, da pavimentação e da impermeabilização extensivas, da mineração, do agronegócio, do desmatamento, das políticas de apagamento, desterramento e desterritorialização, da contaminação, erosão e desertificação dos solos, ainda podemos ouvir a floresta na voz firme e doce de Ailton Krenak, a nos chamar a “pisar suavemente sobre o chão”.

Com todos os desafios que isso coloca para a arquitetura, disciplina que está na medula da crise atual e certamente tem sido um dos agentes centrais tanto da construção quanto da destruição do chão. Mas também pode ser da sua regeneração.

Programação

06 de maio

COMO ENCRUZILHADA
Lígia Nobre e Luiz Rufino com Thiago Florêncio

14 de maio
COMO ARQUIVO
Eduardo Goés Neves e Rogério Ribeiro de Oliveira com Denilson Baniwa

21 de maio
COMO CAMINHAR
David Le Breton e Francesco Careri com Patrícia Ferreira Pará-Yxapy

28 de maio
COMO COTA ZERO
David Casino e Maria Manuel Oliveira com Fernanda Fragateiro e Rui Mendes

15h (GMT -3)
Zoom 991 2611 5550
Senha 215202


Organização

Ana Luiza Nobre
, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da PUC-Rio

Caio Calafate, Arquiteto (gru.a - grupo de arquitetos) e Professor do Curso de Arquitetura da Universidade Santa Úrsula, Mestre em Arquitetura (PPGARq-PUC-Rio) e doutorando em Design (Esdi-UERJ)


Para mais informações, clique aqui


Email de contato: sentidosdochão@gmail.com

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